Assessoria Empresarial Uller

“Rico ou pobre, endividado é o descontrolado”

O santista Luis Carlos Ewald ganhou popularidade ao encarnar o Senhor Dinheiro no Fantástico (Rede Globo), onde dá dicas de finanças pessoais e economia doméstica. Engenheiro e economista, Ewald trabalhou por seis anos no governo federal, onde fez parte da equipe do ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen, nas gestões de Geisel e Figueiredo. Palestrante, professor e consultor, ele agora também é garoto propaganda da Abramar, construtora de Balneário Camboriú que terá um estande na Fenahabit, evento que começa na quarta-feira, no Parque Vila Germânica. O Senhor Dinheiro virá a Blumenau para conversar com os visitantes da feira, mas antes conversou com a coluna.

Quando começou a trabalhar com finanças pessoais?

Luis Carlos Ewald – Escrevi anos para o Jornal do Brasil, onde eu tinha uma página no caderno Seu Bolso, de finanças pessoais. Comecei a escrever sobre festa de 15 anos, quanto custa ter um cachorro em casa e assim foram cinco anos de matérias semanais. Comecei a fazer palestra sobre isso. O Fantástico me descobriu há 10 anos. Escrevi meu livro que já vendeu 60 mil exemplares. Já está na 18ª edição.

Como o senhor classifica o brasileiro hoje em relação ao dinheiro?

Ewald – O que mudou essa relação foi o Fernando Henrique e o Plano Real. Ele foi feito com muita seriedade e mudou a relação dos brasileiros com a economia. Antes, não era culpa de um e de outro. Era de todo mundo que deixou correr solto. Tinha loja de material de construção no Rio que até 13h tinha um preço e depois era outra tabela. E só não entramos em hiperinflação por causa da indexação. Tudo aumentava o tempo todo.

Isso fez com que o brasileiro se tornasse aplicado em relação às finanças pessoais?

Ewald – O comportamento do brasileiro mudou. O que precisa a médio e longo prazo é uma continuidade na educação financeira. Hoje há várias empresas públicas com orientação do Ministério da Educação e Cultura (MEC) ensinando educação financeira para o Ensino Médio. E com uma diferença fundamental. Ele não tem educação financeira familiar. Ele vai estudar juros em Matemática, câmbio em Geografia, macroeconomia em História.

Por que tanta gente ainda tem dificuldade para controlar as contas?

Ewald – Devido aos 30 anos de correção monetária. Eu costumo dizer que se eu tirar sangue de qualquer pessoa, haverá correção monetária nele. É da nossa vida. Esse comportamento atrapalha no planejamento financeiro, além da ignorância geral, cultural. O Brasil ainda é um país analfabeto. O que tem de analfabeto funcional é uma loucura. E joga-se dinheiro fora, construindo estádio em Natal, Mato Grosso, Manaus. Você conhece algum time de Natal? Na África do Sul, dizem que três estádios servem de pasto para a pecuária.

Muita gente recebe salário para cobrir o cheque especial. Por que as pessoas teimam em pagar juros?

Ewald – Porque elas gostam de ter um cafetão na vida. Entrou um dinheiro, 10% vai pro cafetão, que é o banco. Estão felizes da vida. Se tivesse a cabeça no lugar, não tinha cheque especial e não tinha cartão de crédito.

Cheque especial e cartão de crédito não podem ser aliados?

Ewald – Eles são ótimos para quem sabe usar. Dia 27 de maio. Você está “duro” e viu uma oferta de uma lista de remédios que você usa. Você vai lá e compra com o limite do cheque especial e no dia 1º paga aquele pedacinho e pronto. Agora, usar o cheque especial como complemento do salário é contratar um cafetão para sua economia doméstica. Não tem desculpa. Quanto mais ganha, mais gasta. Se eu sou um esculhambado ganhando R$ 2 mil por mês, eu vou ser um esculhambado ganhando R$ 5 mil por mês. Rico ou pobre, endividado é o descontrolado.

Como se livrar da dependência do cartão?

Ewald – Não use e saia para o shopping só com uma nota de R$ 100. Você não vai tomar cafezinho ou sorvete porque não troca e vai voltar pra casa com dinheiro. Já experimentou ter na carteira só uma nota de R$ 100? Você leva dois, três dias para trocar. Toda dieta é boa, desde que seja feita.

Por que é difícil explicar para um cidadão comum o que é o juro?

Ewald – Ele não quer parar para pensar. Ele é um viciado em gastar dinheiro. Um compulsivo. Isso é doença. Dá pra resolver? Dá. Eu tenho uma cozinheira gente finíssima, mas não sobra nada pra ela. Tive que quebrar o cartão de crédito dela para ela parar de gastar. Ela pedia vale o tempo todo. Hoje em dia tá ótimo. Até poupança ela tem. Segredo pra ter poupança: em vez de dar 10% pro cafetão, dá 10% pra você mesmo.

Com a educação financeira, a próxima geração estará mais capacitada para lidar com dinheiro?

Ewald – Dando-se continuidade a essa filosofia. Agora, precisa resolver de uma vez por todas a questão da educação no país. Quando eu era pequeno, eu perguntava para o meu pai porque não acabavam com a seca. Ele me respondia que era a indústria da seca. Os políticos exploram a seca para vencer eleições. Hoje existe a indústria da educação. Todo mundo que entra no governo vai melhorar a educação. Cadê? Complicado.

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